terça-feira, 7 de julho de 2009
Como se constrói a eternidade...
Um singelo pensamento me intrigou quando avistei os engravatados Magic Johnson e Kobe Bryant disparando com eloquência elogios póstumos a Michael Joseph Jackson em meio ao mais midiático funeral de toda a história da humanidade. Afinal, o cenário, o Staples Center, há um mês sediava as empolgantes finais da NBA...presenciava enterradas, tocos, assistências, gritos de euforia...e agora...recebia um evento surreal que oscilava entre a emoção sincera e a mais complexa bizarrice envolta em aplausos sempre seguidos por um silêncio tibetano.
A audiência brutal de todo um planeta ávido por tudo que envolva MJ garante uma nova face ao Staples Center, certamente o transformando em futuro destino de fãs em busca de um bálsamo para a dor da perda de seu ídolo. A arena carimbou seu ingresso rumo à eternidade, fazendo as pazes com a outrora traiçoeira história, que já lhe pregara duras peças em um passado não tão remoto, tendo o acaso como fiel cúmplice.
Vamos a uma humilde lista que justifica esse meu disparate: o Staples Center não viu o lendário Wilt Chamberlain em ação. Também não serviu de palco para o brilhantismo de Jerry West; tampouco para os óculos de acrilico de Kareen Abdul Jabbar e seus ganchos imbatíveis. A magia de Earvin Johnson foi outra que acabou exibindo seu vasto repertório em diferentes e felizes cenários. Como se não bastasse, o ginásio ainda surgiu em meio a um jejum de titulos do poderoso Los Angeles Lakers, a segunda mais vitoriosa franquia na história da NBA, perdendo apenas para o Boston Celtics.
No entanto, a nova arena dos Lakers surgiu imponente em 1999, como marco de uma atmosfera de grande otimismo que culminaria com uma nova era gloriosa que estava por vir, liderada por Shaquille O'Neal, Kobe Bryant, Phil Jackson e o iluminado Jack Nicholson à beira da quadra. O tricampeonato da NBA (00,01,02) e a conquista na última temporada serviram como compensação histórica para um palco que justifica com toda intensidade o moderno conceito de "multiuso", hospedando não só os Lakers, mas também os Sparks de Lisa Leslie na WNBA (bicampeão 01/02), além dos Kings na NHL (a liga de hoquei), o Los Avengers, integrante da momentaneamente suspensa AFL (a liga de futebol americano de arena), grandes shows, simpáticos eventos de luta livre e agora tributos e funerais de celebridades cosmopolitas.
A inauguração teve um concerto de Bruce Springsteen em 17 de outubro de 1999, dando o pontapé inicial à série de eventos que já justificam com sobras o investimento inicial na casa dos US$ 375 milhões. Aliás, que Juca Kfouri nunca saiba dessa, mas toda vez que é grafado o nome "Staples Center", caímos na armadilha do merchandising involuntário, já que Staples é uma rede americana de papelarias, certamente em êxtase com o retorno que a decisão de dar nome ao ginásio lhe trouxe ao longo dos anos. Apenas para constar, "staple" significa grampo, indicando um teor de criatividade inversamente proporcional à sorte dos benditos papeleiros. Segue um texto institucional colhido em exótica navegação pela rede mundial de computadores:
A Staples, Inc. foi fundada em 1986 e é a maior rede mundial de lojas para escritórios, com mais de duas mil lojas em 27 países. A empresa tem sede na cidade de Framingham, em Massachusetts. Seu catálogo e entregas abrangem, além dos EUA, Alemanha, Argentina (com o nome Officenet), Áustria, Brasil (com o nome OfficenetStaples), Canadá (como Staples mesmo, sendo que em Quebec o nome é Bureau En Gros, China, Dinamarca, França, Índia, Itália, Portugal e Reino Unido.
E Magic (melhor acompanhado na foto ao lado) e Kobe estavam lá...discursando diante do caixão banhado a ouro e que custou a bagatela de US$ 25 mil. Meu desejo de que ele se erguesse em triunfo e perguntasse "Who's dead?" não se realizou infelizmente. Um momento grandioso e mais melancólico que qualquer temporada do Los Angeles Clippers (o outro time da cidade na NBA e também inquilino do eclético ginásio, mas famoso pelos seus seguidos fracassos e intencionalmente ignorado anteriormente por aqui). Mariah Carey, Lionel Ritche, Brooke Shields, Stevie Wonder, o dono da gravadora, os irmãos, os filhos, a mãe de Jackson se uniram nesses instantes de dor e ostentação, oferecendo canções, palavras e gestos para a posteridade do palco que lhes abrigou.
Mesmo assim, talvez num futuro ainda bem distante, o Staples Center siga o mesmo caminho do Shea Stadium, o antigo estádio de baseball do New York Mets, demolido recentemente, apesar de eternizado por ter sido o palco de histórico show dos Beatles na turnê norte-americana de agosto de 1965. No entanto, nem explosões...nem alucinantes epidemias de Alzheimer... serão capazes de apagar memórias e momentos tão intensos...Sejam elas protagonizadas pelos Beatles....sejam elas pelo indecifrável e genial Michael Joseph Jackson.
Ps: Paul McCartney afirmou quando do último show antes da demolição do Shea Stadium: "É muito bom estar de volta. Estive aqui há muito tempo e aquela noite foi uma explosão. E hoje está sendo uma nova explosão"
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