quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Varandão da saudade 2


O Brasil enfrenta a Estônia nesta quarta-feira, mas o o que realmente importa é que o Kaká se perdeu pelas ruas de Tallin (foto acima), durante um passeio pela capital estoniana. Como é um rapaz dócil e ingênuo, a notícia não gerou sequer maldosas insinuações, apenas gracejos marotos.

O turista tupiniquim, provavelmente chupando balas de caramelo enquanto se deliciava com um lindo algodão doce, resolveu caminhar pela parte antiga da cidade, desvendando os seus mais profundos mistérios. No entanto, após altas confusões com uma turma do barulho na maior curtição, não soube voltar ao hotel.

Kaká, inspirado pela ilibada bispa Sônia, fez uma oração e logo uma patrulha da polícia surgiu, conduzindo o garoto até o hotel Raddison, onde se encontra a delegação
.

A notícia acima me fez relembrar outro texto antigo que resgato a seguir. Foi publicado em março de 2006, em meio a um bizarro amistoso da seleção brasileira, em pleno inverno moscovita. Brasil x Rússia. Diante de um cenário gélido e inóspito, já parecia evidente que a patética preparação de Parreira e seus "comandados" não escaparia de um derradeiro e retumbante fracasso poucos meses depois em gramados germânicos.

No texto em questão, assim como o menino Kaká, outro garoto acaba se separando da delegação em busca de aventuras. O leste europeu, seja ele Tallin, seja ele Moscou, deve ser irresistivelmente sedutor... Acompanhe...



Só sei que o Inverno russo pega, mata e come. Fundamentalista, nunca suportou a indiferença alheia e sempre exigiu aquela forma de respeito que se confunde com o mais puro e simples temor. Puritano, sempre ostentou os temíveis números negativos que se acostumaram a conferir um visual homogêneo e melancólico à eterna paisagem do leste europeu. Além disso, também passou a ditar uma moda que, se por um lado é até elegante e sofisticada, por outro, não excitaria sequer os padres de Boston ou de outras paróquias menos cotadas.

Definitivamente, um cenário que fascina e intimida. Mas claro, um cenário que nenhum cidadão russo com um pingo de conhecimento histórico seria capaz de condenar sua inabalável ferocidade, nem mesmo após uma bela e voraz sessão etílica. Afinal, se não fossem sua volúpia e intensidade, talvez hoje a suástica imperasse e a Rússia não passasse de um grande campo de concentração. Isso sem citar também Bonaparte. Ponto final. Esses argumentos bastam por toda a eternidade. Passa pelo sentimento de gratidão. É isso mesmo, além de respeito, ele exige idolatria, com imensas e gélidas mãos de ferro.


Por isso, é evidente que ele se sentiu gravemente ofendido quando soube pelos jornais oficiais do governo, que dezenas de brasileiros embarcariam na capital russa para jogar uma partida de futebol. Não era possível. Atenção para o incidente diplomático. Figuras tropicalistas ousavam desafiar uma instituição nacional e contrariar a moda vigente, brindando a monótona paisagem com promessas de instantes de fantasia e ilimitada diversidade de cores. Não, isso era a humilhação. “Enquanto eles estiverem aqui, Moscou vai virar Sibéria e a Sibéria vai virar Moscou”, imediatamente sentenciou o irado Inverno russo. Pobre coitado, ele foi humilhado com a inesperada reação alheia.


Confinados no hotel, os tropicalistas festejaram a impossibilidade de treinar. Apesar da ausência de Ronaldinho, organizaram um grande carnaval; cantaram melódicos pagodes; saudaram o fim do comunismo com uma oração ministrada por Kaká; compararam seus novos relógios, correntes, lap tops, e aproveitando que Parreira se trancara no quarto com Ricardinho, Bueno, Carvalho e afins, se acabaram em divertimentos ao lado das Kareninas, Sharapovas, Myskinas ,Dementievas e mais algumas Putins. Até Ronaldo estava se movimentando bem. Sim, o poder de adaptação tupiniquim é superior aos tais nazis.

Deprimido com o fracasso instantâneo de sua ira, o Inverno foi em um busca de um “odivã”, provocando a total inutilidade dos dois primeiros parágrafos escritos aqui, que enalteciam seu poder inabalável.Transtornado, ele sequer percebeu quando o Velho Lobo, encarnando o animal siberiano, discretamente ganhou as ruas de Moscou e o enfrentou como quem nostalgicamente driblava e vencia novamente os defensores soviéticos, franceses ou suecos. Zagallo não queria estar ao lado de Parreira e nem dos festivos jogadores. Ele desejava a solidão. Zagallo seguia em seu passo lento e decidido a caminho da Praça Vermelha.


Ele tinha um encontro marcado com seu sonho póstumo. O desejo pela eternidade. Desejo sempre estampado em um semblante de inveja quando se imaginava diante do mito. Diante do insepulto Wladimir Lênin. Isso mesmo. Treze letras. Wladimir Lênin. O líder soviético embalsamado e residente em um mausoléu na Praça Vermelha desde 1924.

Zagallo também desejava o mesmo destino para ele; seu corpo seria cuidadosamente embalsamado em um mausoléu diante da casa de Juca Kfouri, um segredo que havia sido cruelmente desfeito por Rogério Ceni. Isso mesmo. Anos atrás, o Velho Lobo confiara inexplicavelmente no goleiro tricolor, confidenciando o exótico desejo e pedindo sigilo absoluto. No entanto, Ceni o delatou para vários colegas, causando a ira do Lobo e a solidariedade de Parreira, que passou a rejeitar a convocação do rapaz para a Copa. Enfim, são os bastidores do futebol, meus amigos.


Mas voltando ao cerne da questão, eles já estavam frente a frente. Sim, dois históricos nacionalistas. Zagallo enrubesceu de emoção e Lênin (jogador de basquete nas horas vagas como destacado na foto acima), aproveitando-se da solidão do recinto, graças à retirada da outrora permanente guarda de honra, iniciou o breve diálogo que é transcrito a seguir por mais um jornalista desempregado que transcreve fitas:

Lênin: Oi

Zagallo: Oi

Lênin: Hummm... Isso aqui virou uma Sibéria hoje. Nunca senti tanto frio em toda minha vi...quer dizer...Afinal, onde está o tal aquecimento global? rs

Zagallo: Não sei, mas me diga. O senhor se sente mal?

Lênin: Claro que sim. Queria estar em São Petersburgo, ao lado de mamãe. Mas o maldito Joseph me colocou aqui.

Zagallo: Sim, entendo o amor por sua mãe. Mas me fale um pouco sobre como tem sido sua vi...sua experiência aí.

Lênin: Não entendo seu interesse. Mas...tudo bem. Tem sido uma desgraça. Primeiro, quando me embalsamaram, me molestaram e ainda hoje desconfio de um sujeito com olhar malicioso.Bom, acho que já morreu.. Desde então...toda semana tenho que mergulhar o rosto e as mãos em um liquido terrível e uma vez por ano, tenho que mergulhar nesse mesmo liquido. É pior que aplicação de botox. Enfim...é a morte.

Zagallo: E o que o senhor sentiu com a queda do muro de Berlin?

Lênin: Seu imbecil! Não tenho nada com isso. Quando levantaram eu já estava por aqui.

Zagallo: Perdão. Nunca fui bom em Engenharia. Sempre gostei de futebol e fui soldado na adolescência. Estava inclusive na final da Copa de 50 quando...

Lênin: Sim,eu sei, eu sei ! Até eu já ouvi essa história!

Zagallo: Desculpe... Mas queria dizer que apesar de tudo me sentiria orgulhoso no lugar do senhor. Afinal, o senhor é um símbolo para inspirar gerações de jovens. Como gostaria de transmitir meu amor pelo verde e amarelo, pela amarelinha, pelo meu Brasil penta campeão

Lênin: Ah...você é do Brasil? Sim, ouvia falar muito de seu país quando estava no comando.Vocês já resolveram o problema da febre amarela, das fraudes eleitorais, da pobreza?

Zagallo: Não, ainda não.

Lênin:hauahahahahhauhahhahahahh

Zagallo: Ei...respeite o verde e amarelo!

Nesse instante, os dois jovens partiram para o confronto físico. Logo foram separados por agentes do outro Vladimir, o Putin. Zagallo, alucinado, foi encaminhado para local desconhecido, vociferando que todos teriam que o engolir. Já Lênin foi enclausurado por tempo indeterminado em seu mausoléu, por indisciplina flagrante. Esse fato lamentável fortaleceu a corrente governista que defende a transferência do corpo do ex-líder para São Petersburgo ou para a República da Kalmykia, no sul do país.

Poucos minutos após o incidente, o Inverno, percebendo a ineficiência de sua irada ação, arrefeceu, voltando ao conhecido nível moscovita. Carlos Alberto Parreira foi logo informado e imediatamente convocou os atletas para o treinamento no Lokomotiv Stadium. No entanto, ao tomar conhecimento da orgia que rolava no hotel, o senhor Pé de Uva exigiu que fossem ditos os nomes dos responsáveis. Com o silêncio geral, Ricardinho pediu a palavra e disse que a responsabilidade era toda de Rogério Ceni. Tudo ficou bem. Fique com a ficha técnica:

RÚSSIA 0 X 1 BRASIL

Local: estádio Lokomotiv, em Moscou (Rússia)
Data: 1º de março de 2006, quarta-feira
Horário: 13h (de Brasília)
Árbitro: Massimo Busacca (Suíça)
Gol:
Ronaldo, aos 14 minutos do primeiro tempo
RÚSSIA
Akinfeev; Aleksei Berezutski, Vasili Berezutski, Ignashevich e Zhirkov; Loskov (Bilyaletdinov), Aldonin, Smertin e Aniukov; Arshavin e Kerzhakov. Técnico: Alexandr Borodiuk
BRASIL
Rogério Ceni; Cicinho, Juan (Cris), Lúcio e Roberto Carlos (Gustavo Nery); Émerson (Gilberto Silva), Zé Roberto, Ricardinho (Edmíslon) e Kaká (Juninho); Ronaldo (Fred) e Adriano. Técnico: Carlos Alberto Parreira

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Varandão da saudade


O texto a seguir foi produzido em 27 março de 2006 e publicado em um blog então capitaneado pelo meu carismático amigo Daniel Camargos. O pano de fundo foi um clássico entre Cruzeiro e Atlético pelas semifinais do Campeonato Mineiro daquela temporada.

O primeiro confronto da série terminou com um empate por dois gols. A segunda partida foi disputada sob forte chuva; antecedida por uma semana recheada pela tensão e a tradicional provocação. No entanto, o roteiro dos anos anteriores acabou se repetindo... O Cruzeiro venceu por 2 a 0 e se classificou para a final, superando o Ipatinga na decisão e conquistando mais um campeonato.
O Atlético não conquistava um título desde 2000 e aquela pungente derrota foi mais um golpe que atingiu ferozmente a sofrida alma alvinegra.

A música "Construção", composição de Chico Buarque, norteou e ditou todo o texto, marcado pela relação de um casal rendido às dores e prazeres do futebol naquele domingo encharcado de clássico. Ele atleticano: nostálgico, lúdico, apaixonado, sonhador....Ela cruzeirense: bem sucedida, organizada, exigente, racional...

Vamos ao texto...


Amou daquela vez como se fosse a última.


Naquele domingo, como sempre, a eterna esperança driblou a velha angústia e atravessou o horizonte nebuloso, o guiando rumo ao imponente cenário colossal. Sai tristeza, sai amargura...Seis anos, quase seis anos sem aquelas sensações de incontido êxtase profundo. Seis anos de suor, lágrimas despudoradas e algumas efêmeras alegrias que apenas iludiram e mantiveram a tal da inabalável paixão desenfreada. Tudo isso tinha que acabar. Não era possível tamanha frustração. Ele queria vencer, sorrir, ele queria gritar, esquecer as mágoas e não apenas sonhar. Ele estava ávido por uma dose de realidade nas veias. Apenas isso. Realidade nas veias...


Beijou sua mulher como se fosse a última. E cada filho seu como se fosse o único.E atravessou a rua com seu passo tímido.


Simplesmente sucumbiu ao desejo devastador que o dominava com classe e requinte em meio aos empurrões e gritos da multidão em transe. O beijo da supremacia. Ela se despediu e partiu em disparada pela direção contrária. Como ela tinha graça, como era veloz, racional e exigente. A sua pungente antítese. Era irritantemente organizada, sempre detalhista, uma administradora de sucesso, capaz de bolar os mais mirabolantes negócios. Foi ela que sempre manteve o casório, foi ela que comprou as casas da família, as estruturou com sofisticação, enquanto o marido se perdia em nostalgias e delírios apaixonados, sonhando com futuros filhos que ela rejeitava por razões meramente racionais.


Foi o beijo fatal. Ele ficou estático, o olhar distante. Foi despertado apenas pela indesejável chuva que teimava em também ser protagonista naquela tarde. Era hora de ir. O duelo iria começar. Mas onde estava aquela confiança esperançosa que lhe prometera companhia? Não estava mais lá. Ele pensou em desistir. Em vão. Quando deu por si, já rompia caminhos, partindo ao encontro de sua paixão doída, com seu passo tímido...



Subiu a construção como se fosse máquina. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas. Tijolo com tijolo num desenho mágico. Seus olhos embotados de cimento e lágrima.

Onde estava a maldita confiança de outrora? Ele estava perdido. Subia todos os degraus possíveis, ignorava acenos e sorrisos de desconhecidos que sempre se tornavam velhos amigos naqueles instantes mágicos. Desejava estar sozinho na multidão, desejava ordenar que essa tal angústia procurasse outra morada, de preferência naquela tal direção contrária. Não era para ser assim. Mas era. Tentou resistir. Encheu-se de inesperado brio e ouviu um grito rasgar os céus da cidade.

Todos de pé. Começa o espetáculo. Gladiadores no gramado molhado. A arte faltou, viu? Talvez esteja em alguma viagem romântica pelo túnel do tempo, o certo é que não vem mesmo. Sem chance. Mas para ele não faz falta. O que importa é a raça, o orgulho e a vitória. Com olhos injetados, acompanha cada jogada, cada lance, cada dividida. .Ele é atacado pela esquerda, é desconcertado por um drible impiedoso, um lançamento preciso em sua área, um cabeceio potente e um sutil tapa de luva, uma senhora defesa.


Gritos, muitos gritos... Respira, controla, faz como fazia o Mané, ele implora para um moço que nem lembra o nome. Mas como pedir isso a um João? Melhor esquecer e partir para outra investida construída com cuidado, com carinho, mas sem magia, sem sucesso. Mais disparos, mais oportunidades perdidas. E ela vai e vem num desenho mágico. Ummm...agora é maltratada a coitada, quantas caneladas. Ele se nega a ver, se perde em mais pensamentos nostálgicos e desperta com a dor de um impacto carente de sutileza. O cartão vermelho e o mau presságio. Ele não costuma errar. O silêncio ao seu redor é como uma iminente marcha fúnebre. Decide não acompanhar o lance. Como muitos outros, abaixa a cabeça, fixa o olhar no cimento gelado e aguarda o êxtase adversário. Autoriza o árbitro. A explosão, uma lágrima que cai e um imediato chamado no maldito celular. “Amor, você está aí?”...

Sentou pra descansar como se fosse sábado. Comeu feijão com arroz como fosse um príncipe. Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Intervalo de jogo. Um a zero no placar. Ele não quer saber de mais nada. Chega disso. Vamos falar de política. Será que o Palocci é culpado? Ninguém responde. Cada um está ocupado com seus próprios monólogos delirantes. Melhor comer algo. Sentado em um canto ele contempla seu farto prato plástico e traiçoeiro. É preciso cuidado para manter o equilíbrio. Vá rápido!!! Coma seu feijão, coma seu arroz, beba sua cerveja. Isso, com garfadas frenéticas, goles vorazes, enquanto ela não rola...


Dançou e gargalhou como se ouvisse música. E tropeçou no céu como se fosse um bêbado.

E ela voltou. A confiança voltou, não se sabe porquê. O segundo ato está em ação. Ele já avança, já toca na direita, domina pela grande área, bate cruzado e encontra as redes, pelo lado de fora. Que emoção... Ele dança, se junta aos seus amigos e salta como se ouvisse o gol tão sonhado. Mas, em meio ao delírio, sofre um contragolpe, uma trama adversária altamente perigosa. Está desprotegido, tropeça nas próprias pernas, mas o inimigo gentil, manda um inofensivo disparate para sua fácil defesa. Alivia a tensão cidadão...

E flutuou no ar como se fosse um pássaro. E se acabou no chão feito um pacote flácido.

Agora, decide ousar, atacar com velocidade e decisão, por dentro e pelos flancos. Está envolvendo, está assombrando o inimigo, provocando preocupação, levantando sua voz. O ataque é pela direita, ele encara a marcação e é atingido ferozmente. Cartão vermelho no verde gramado. Explosão de esperança. Ele flutua no ar como se fosse um pássaro. O gol está próximo. É questão de tempo, como diria o velho comentarista que nega a aposentadoria. Bola parada. O levantamento é feito na grande área, a trajetória parece promissora, olhares angustiados por todos os lados, o goleiro salta e faz a defesa. Seguem-se movimentações frenéticas de ambos os lados. Um jogo aberto e recheado de erros. Ele ainda vive seu sonho até que sofre o golpe fatal. Uma inspirada investida adversária pela direita, uma seqüência de dribles e um arremate perfeito, no angulo superior direito do gol. O goleiro está no chão, ele também, feito um pacote flácido.


Agonizou no meio do passeio público. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.

Os minutos passam. Ele é humilhado por dribles provocantes e reage melancolicamente. Nada mais acontece ao seu redor. Ignorado pela sorte e pela vida, ele agoniza em meio à multidão que se dispersa velozmente. Ouve os gritos na direção contrária e se prende aos pensamentos, aqueles pensamentos repletos de mitos e heróis. O árbitro apita. O espetáculo termina. A multidão finalmente vai embora em silêncio. E ele? Não vai embora? Será que morreu na contramão atrapalhando o tráfego? Não, ele não morreu. Ele não é disso. Basta avistar sua sorridente amada ao longe para que se levante e parta rumo ao seu lar. No caminho, ele dará uma entrevista a uma rádio local e lavará a alma com pedidos desesperados e patéticos. Não tenham dúvidas. Ele voltará.



Final Atlético 0 x 2 Cruzeiro (Wagner e Francismar)

Semifinal do Campeonato Mineiro, 26 de março de 2006

terça-feira, 21 de julho de 2009

Os parceiros de Romário


O baile de debutante da conquista do tetra nos Estados Unidos é uma grande efeméride esportiva do ano. O disparo de Roberto Baggio, a dramática vitória, a homenagem à Ayrton Senna, a taça erguida pelo chucro Dunga, são memórias que se eternizaram no panteão de glórias do futebol brasileiro.

O time comandado pelo burocrático Parreira primava pelo grande controle da posse de bola, garantido por uma segurança e força física jamais vistas numa seleção brasileira. Na realidade, aquele time seria um autêntico selecionado europeu, um completo sepultamento do estilo leve e envolvente tupiniquim, se não fosse a presença de Romário. O cerebral atacante estava no auge de sua carreira, com seu genial estilo minimalista, capaz de transformar pequenos espaços em latifúndios de criatividade e imaginação. Com ele em campo, o Brasil era realmente Brasil.

Na sequência, uma pequena lista com apenas alguns dos inúmeros parceiros de Romário. Uma inocente homenagem à sua turbulenta, irresponsável e brilhante trajetória.

Bebeto

O baiano chorão nunca foi um peixe de Romário. No entanto, em campo exibiam uma fina e invicta sintonia, marcada por descolamentos e passes envolventes que resultaram em 47 gols pela seleção brasileira. Além do tetracampeonato, estiveram juntos na histórica conquista da Copa América de 1989, encerrando um incrível tabu de 40 anos.

Romário também tem uma indireta dívida de gratidão com o franzino rapaz ; na última rodada do Campeonato Espanhol (93/94), o Deportivo de Bebeto enfrentava o Valencia, necessitando apenas de uma simples vitória para conquistar o título. No final da partida, a equipe de La Coruña teve um pênalti a seu favor; entretanto, Bebeto, o cobrador oficial, não quis bater. Dukic cobrou e perdeu. O empate sem gols deu o título ao Barcelona de Romário.

Aliás, na disputa de pênaltis contra a Itália, Bebeto seria o último a bater pelo Brasil, caso Baggio tivesse convertido seu disparo. O baiano agradece eternamente aos seus orixás.


Hristo Stoichkov

O extraordinário e temperamental meio-campista foi grande parceiro de Romário no título espanhol da temporada 93/94. O búlgaro contribuiu muito para as performances que renderam o título de melhor jogador do mundo ao brasileiro naquela temporada.

Na Copa do Mundo de 1994, a Bulgária de Stoichkov foi uma das grandes surpresas, mas acabou eliminada na semifinal diante da Itália. A derrota impediu um encontro diante do Brasil, numa final que provavelmente seria menos truncada e mais lúdica que a sufocante decisão por pênaltis no Rose Bowl em Pasadena.

Após a aposentadoria em 1999, Hristo Stoichkov se aventurou como treinador (seleção da Bulgária 2004/07, Celta de Vigo 2007), mas esteve distante da excelência dos tempos de jogador.


Chapolim Colorado

Não há como ler ou ouvir algo a respeito de Romário na imprensa latino-americana (em especial a argentina) não acompanhada da alusão ao anti-herói mexicano. O carinhoso apelido não deixa Romário muito feliz, mas tem lá suas semelhanças, não se limitando apenas às trapalhadas e confusões ...

Chapolim é baixinho e sempre surge prontamente quando acionado pela famosa súplica: “E agora, quem poderá me salvar?”, invariavelmente seguida de aventuras mirabolantes e finais mais ou menos felizes.

Romário é baixinho (não me diga) e imediatamente atendeu ao chamado de socorro de Parreira, retornando à seleção na partida decisiva das Eliminatórias de 1993 diante dos uruguaios no Maracanã. O Chapolim tupiniquim marcou dois belos gols e selou o passaporte rumo ao tetra.

Ah....Romário também já utilizou a marreta biônica contra um torcedor do Fluminense nas Laranjeiras, contra o argentino Simeone, então no Atlético de Madrid, além de outras vítimas, como Cafezinho do Madureira, Zandoná do Velez Sarsfield e o zagueiro Andrei (que era seu companheiro de time)

Ele só não contava com a astúcia do Luiz Felipe Scolari...


Euller

Euller agora habita a infernal penumbra da Série C com o América Mineiro, mas já teve seus momentos de intenso holofote, com destaque para sua parceria com Romário no Vasco da Gama. Foi ao lado do então filho do vento, hoje uma brisa balzaquiana, que Romário marcou mais gols em uma única temporada em toda sua carreira. Foram 74 gols em 2000...uma marca realmente formidável.



Matemática

A professora Conceição não teve piedade ao reprovar Romário em Matemática na oitava série. Os anos se passaram e tudo levava a crer que Romário e a Matemática nunca protagonizariam uma amizade fraternal.

No entanto, no crepúsculo da carreira do artilheiro, a insólita união aconteceu. A Matemática encarou a parceria, se desdobrou, ignorou substrações e divisões, ampliou somas e estratosféricas multiplicações. A prova final foi adiada algumas vezes e teve que mudar de cenário....

O colossal Maracanã deu lugar ao caldeirão de São Januário numa partida diante do Sport Recife. O pênalti providencial aconteceu. Romário cobrou e marcou o seu mirabolante milésimo gol. O goleiro Magrão foi a vítima...quer dizer...a Matemática foi a vítima...enfim...

Jones Souza Régis

Jones foi um dos amistosos colegas de cela de Romário na semana passada. Ele também varou a madrugada na prisão por não pagamento de pensão alimentícia e aproveitou para trocar passes e impressões com o Chapolim enjaulado.

"Inclusive eu fiquei até de queixo caído quando ele disse que queria ter mais cinco (crianças). Aí eu disse 'nossa!', afirmou o malandrão.

A possibilidade de reencontro de Romário e Jones, ao contrário dos demais citados nesta lista, é muito boa.

sábado, 18 de julho de 2009

O disparate da semana


"Como pode no meio da crise alguém ter dinheiro? O dinheiro do mundo tem que tá em algum lugar. E Deus colocou esse dinheiro na mão de quem? Do Real Madrid, pra contratar o Kaká. Foi uma grande bênção"

O devaneio é da pastora Caroline Celico,a esposa
do Kaká.

Apesar da declaração,o teto da igreja não desabou dessa vez.

O endiabrado

Kaká e a esposa (ainda grávida na foto acima) em evento da Igreja Renascer

O casal Estevam e Sônia Hernandez, fundadores da Igreja Renascer em Cristo, foi condenado em agosto de 2007 pela Justiça norte-americana pelos crimes de conspiração e contrabando de dinheiro. Eles tentaram entrar nos Estados Unidos com US$ 56 mil e declararam à Alfândega que não portavam mais de US$ 10 mil cada um.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Loucuras das Américas


A imagem acima retrata fielmente o que é uma decisão de Taça Libertadores da América, a sedutora e cinquentenária competição continental, conhecida pelas altas doses de técnica, garra, violência e loucura, aparentemente retiradas de ocultas páginas literárias do mais genuíno realismo mágico de Gabriel Garcia Marquez.

A primeira etapa era tensa, truncada, com faltas duras e poucas oportunidades de gol, quando Perez sorrateiramente decidiu acariciar a face de Kleber, levando ao desespero a futura esposa do temperamental atacante, certamente preocupada com o visual de seu cônjuge na cerimônia matrimonial da sexta-feira. O tumulto que antecedeu o mimo resultou em cartões amarelos para o próprio Kleber e para Verón, ilustrando o clima de profundo suspense e agressividade que envolveu toda a decisão.

Uma decisão que teve uma insana primeira partida na Argentina, vice-líder no ranking de casos de gripe suína em todo planeta, mas detentora de grande força política na alta cúpula da Confederação Sul-Americana. A impecável atuação do goleiro Fábio garantiu a expectativa para a partida da volta, com cenas pitorescas em meio às gigantescas filas que se formaram pela capital mineira. Donzelas com barrigas postiças, velhinhos profissionais, velozes deficientes físicos e os tradicionais cambistas safados e devidamente espancados, atraíram as atenções, ao lado de inúmeros torcedores frustrados, certamente distantes do rol de amiguinhos de dirigentes e governadores egocêntricos.

A legião de fanáticos argentinos, cerca de 3.500 cidadãos, chegou a Belo Horizonte, causando o pavor das autoridades sanitárias. A delegação do Estudiantes se refugiou em um hotel distante do epicentro do evento, o que não impediu de ser carinhosamente recepcionada por torcedores atleticanos. Na iminência do confronto, os argentinos foram encaminhados ao Mineirinho, para um surreal exame médico coletivo que verificaria a existência de algum portador da malfadada gripe. Evidentemente, a consulta não ocorreu e todos foram liberados para o duelo, simulando espirros enquanto se aproximavam do colosso da Pampulha. Já dentro do estádio, as ironias deram lugar aos incessantes cantos que fortaleceram ainda mais o ambiente de magia de uma final de Libertadores.

Após uma etapa inicial ditada pelo temor recíproco, pelos socos e empurrões, o segundo tempo teve mais ousadia e futebol, teve o êxtase celeste com o longo disparo de Henrique, anotando um gol que por efêmeros instantes ofereceu à torcida a certeza da conquista continental. Mas em meio ao hostil cenário de euforia incontida, a frieza do Estudiantes impressionou a multidão. O time argentino manteve intacto seu plano de jogo, cadenciou o confronto, trocou passes, aliou um jogo físico e mental que arrefeceu a euforia dos locais com um avanço pela direita finalizado com perfeição pelo atacante Gaston Fernandez. Após o empate, o bloqueio a qualquer tentativa de invasão da área argentina seguiu perfeito, o Estudiantes, inspirado pela atmosfera de silêncio e medo que assolou o Mineirão, passou a dominar e gradualmente a sufocar o adversário, guiado pelos passos de Juan Sebastian Verón.


O gol da reviravolta, o cabeceio certeiro de Mauro Boselli, apenas materializou o destino que em vermelho e branco anunciava o novo campeão da América. O Cruzeiro, o time que recebeu o governador playboy e pé-frio no vestiário para as últimas palavras antes do confronto, se desesperou, buscou alternativas, improváveis atalhos, mas não teve forças para transformar a pungente realidade. O apático e já benfiquista Ramires se despedia melancolicamente, Kleber sucumbia à marcação, os laterais eram fantasmas sorumbáticos...

O esforçado Tiago Ribeiro, que entrara na lacuna de Wellington Paulista, ainda quase arrancou o travessão em potente disparo, antes de perder nova chance dentro da área inimiga e sepultar de vez a esperança da ressurreição. Em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, uma mãe cruzeirense, irritada com a discussão entre o filho atleticano e a nora celeste, arrancou um pedaço da orelha do coitado com seus inofensivos caninos.


No antes maldito Mineirão, a magia (alvi)negra da Brujita, com pitadas de força e organização, agarrava com veemência o tão desejado troféu, iniciando uma ruidosa celebração que não poupou o teto do vestiário e varou a madrugada marcada pela tradicional depredação de 48 ônibus em diferentes pontos da cidade, num prejuízo estimado em setecentos reais por veículo. Já na Argentina, a carreata dos vencedores contou até com a insólita presença da bandeira atleticana.

A partir de agora, o Estudiantes lutará para chegar forte a Abu Dhabi, superando as inevitáveis perdas de atletas na sequência da temporada. Já o Cruzeiro terá que se contentar com seus desafios domésticos, superar as acusações de soberba, se recuperar na tabela do Campeonato Brasileiro e fixar objetivos que mantenham vivo o interesse e a fé de seu frustrado e naturalmente ambicioso torcedor.

No domingo, enfrenta o Corinthians de Ronaldo, num Mineirão ainda sob os efeitos do grande fracasso, seguido da bela atuação atleticana diante do São Paulo....aguardemos o número de testemunhas.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Barack, o fanático


O torcedor Barack Obama sabe desfrutar ao máximo dos prazeres que seu singelo cargo público generosamente lhe oferece. Na noite de terça-feira, lá estava ele em Saint Louis, no estado do Missouri, para o simbólico arremesso inaugural do All Star Game da Major League Baseball. Obama surgiu imponente no gramado do lotado Busch Stadium, caminhando decidido rumo ao montinho, indiferente às timidas vaias de abusados espectadores que provavelmente não aprovaram o traje que o democrata escolhera para a ocasião: a camisa do seu querido Chicago White Sox.

Antes dele, apenas outros quatro mandatários protagonizaram a cerimônia de abertura do jogo das estrelas: Franklin Roosevelt, John F.Kennedy, Richard Nixon e Gerald Ford, esse último há já distantes 33 anos. O arremesso de curva presidencial teve como destino as luvas do astro da casa, o dominicano Albert Pujols, primeira base do Saint Louis Cardinals, principal candidato ao prêmio de MVP da temporada, dono de marcas impressionantes e que, acima de tudo, permanece incólume à avalanche de casos de doping que aniquilam a imagem de seu esporte.

Assim como Pujols, o presidente norte-americano também se mantém forte, esbanjando poder e popularidade, em meio aos infinitos e malditos legados de seu infeliz antecessor. A caótica crise financeira internacional, a pandemia da gripe suína, o eterno conflito israelo-palestino, o Iraque, o bloqueio de Cuba, Guantánamo, os aiatolás do Irã, a Coréia do Norte, o Osama....nada parece capaz de liquidar com a lua de mel de Obama e quem, em qualquer parte do planeta, decidiu, ingenuamente ou não, apostar na mudança que ele se propôs a comandar.

Nada parece abalar a vocação de astro pop do presidente yankee... Nem mesmo quando ele também decide avançar com coragem em meio ao ardiloso e aparentemente inofensivo mundo dos esportes, exibindo sem pudor seus amores e palpites num território regido pela paixão muitas vezes desenfreada e intolerante, capaz de gradualmente destruir reputações consolidadas.

O grande rival do Saint Louis Cardinals na MLB é o Chicago Cubs, talvez por isso o efeito da camisa do outro time da cidade dos ventos, o White Sox, não tenha sido tão intenso assim, num estado em que o democrata venceu nas eleições. No entanto, Obama já coleciona uma polêmica mais contundente nessa seara; em março foi convidado pela ESPN para profetizar quantos aos confrontos decisivos do basquete universitário norte-americano. O presidente cravou North Carolina como futuro campeão, causando uma descontente reação:

"The economy is something that [the president] should focus on, probably more than the brackets."

Bom...quem disse isso aí em cima, no dia seguinte à declaração presidencial e no melhor estilo João Saldanha Scolari, foi o conceituado Mike Krzyzewsky, técnico campeão olímpico em Pequim e também comandante da tradicional Universidade de Duke, grande rival da preferida do democrata que, diga-se de passagem, acabou conquistando realmente o título ( a décima-oitava conquista de North Carolina)

Em maio, foi a vez do Pittsburgh Steelers, campeão do Super Bowl da NFL, ser recebido na Casa Branca, numa cerimônia já bastante tradicional no país. Obama confessou que torceu para o time campeão na partida diante do Arizona Cardinals, mas que era torcedor do Chicago Bears e que continuaria sendo assim, não se importando com o tamanho dos jogadores do Steelers. Imagino que na mesma situação, se o Tancredo fosse o presidente, diria que gosta do Pittsburgh, assim como do Chicago e de todos os demais queridos times da NFL...

Agora, reparem na foto acima, o presente de Luiz Inácio à Barack: uma camisa autografada da seleção brasileira de futebol. O que dizer?

Prepare-se Dunga, esqueça a Copa das Confederações, o seu terror apenas começou...

A brujita e sua magia (alvi)negra (texto do Olé)


Y, es la Mineiro de oro

Hinchas del Atlético le regalaron una camiseta a Verón.
Lo mismo que hubiesen hecho los hinchas de Gimnasia con el Cruzeiro lo hicieron los torcedores del Atlético Mineiro, el clásico rival del finalista de la Copa, con Estudiantes. Algunos de ellos esperaron a Verón y sus compañeros y le regalaron una camiseta del equipo a la Brujita.

Los del Mineiro, gordos de felicidad porque vienen de ganar el partido por el que se paraliza la ciudad por goleada (3 a 0 a los suplentes del Cruzeiro, el domingo), prometieron torcer por el Pincha mañana a la noche. Y se lo hiciceron saber a las 160 personas de la delegación argentina (jugadores, dirigentes, familiares y allegados) que anoche, cerca de las 21.30, arribaron al hotel Caesar Businnes, en la zona más paqueta de Belo Horizonte, en un chárter de Aerolíneas Argentinas que voló placenteramente durante la tarde. Después del descanso, Estudiantes irá a reconocer el Mineirao. Y los hinchas del Atlético le seguirán rezando a Verón.

BELO HORIZONTE (ENVIADOS)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Acabou.


O Atlético cumpriu a obrigação que o atormentara durante toda a semana; venceu o clássico, encerrou o jejum, retomou a liderança e o fôlego essencial para se manter distante da tal sina do cavalo paraguaio. O Cruzeiro apresentou um time reserva e fora de sintonia, golpeado fatalmente pela expulsão relâmpago, justa e insana de seu arrependido centro-avante. No entanto, teve a primeira grande oportunidade de gol, num cabeceio de Fabinho que por pouco não muda o destino que já sem suspense acenava com o fim do grande tabu.

A jogada marcou o início do domínio atleticano; premiado com o gol de Júnior, após vital alteração de Roth (a saída do afoito Marcos Rocha e a entrada do sedento Alessandro) e seguidos erros de finalização do próprio campeão do mundo. A vingança de Alessandro sacramentou a vantagem alvinegra, encerrando a primeira etapa com promessas de um inevitável e enfadonho segundo tempo, marcado pelos provocantes gritos de olé e de alusão à desejada Libertadores pela torcida celeste, apesar do resultado adverso.

Os jogadores atleticanos, visivelmente incomodados, partiram para o ataque e tiveram Andrey como não tão inesperado aliado. O erro recheado de injustificável soberba do reserva de Fábio, foi seguido de bela finta e certeiro disparo de Eder Luis. Nada mais houve. O clássico teve retumbante prejuizo estampado em seu pequeno público presente, resultado de um agendamento precoce e acéfalo que ignorou a tão palpável possibilidade de esvaziamento decorrente do avanço cruzeirense no torneio das Américas.

Na sequência da competição, o Atlético enfrenta o São Paulo na quinta-feira, num cenário que abrigará na noite anterior, uma estupenda celebração ou um estratosférico fracasso. Vamos aguardar, diria Adilson Batista.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Disparates de um clássico


Um eventual fracasso do Atlético no clássico deste domingo, não importa a contagem, será tão retumbante quanto as vexatórias goleadas sofridas nas duas últimas finais estaduais. O time está sob sufocante pressão; a obrigação de vencer torna um mero empate, motivo para vaias e discursos indignados de torcedores consumidos por uma paixão que seduz e devora com sádicas pitadas de ilusão.

O atual vice-líder do Brasileiro encara um homérico tabu de 12 jogos, construído com altas doses de incompetência própria e impiedade inimiga, diante de um rival que, mergulhado na iminência da concretização de um sonho dourado, coloca em campo um time reserva, numa sábia e involuntária provocação que amplia ainda mais a necessidade de vitória alvinegra, sob pena de comprometer duramente a sequência de sua campanha. Já um triunfo não só livra o Galo de um autêntico e devastador Complexo de Atlas como lhe oferece um fôlego essencial para se manter no pelotão de elite.

O Cruzeiro entra em campo ciente de que o futuro do restante de sua temporada será decidido apenas na quarta-feira, diante de uma multidão disposta a desembolsar uma bela nota para empurrá-lo pra cima do aguerrido Estudiantes. Uma derrota no domingo apenas fere o orgulho e a vaidade de quem utopicamente deseja ser protagonista de um eterno tabu. Adilson Batista evidentemente só anuncia o time poucos minutos antes da partida; mas cogita-se uma equipe competitiva, com as presenças de Fabricio, Athirson e Sorin ao lado dos habilidosos e imberbes Dudu e Bernardo. A ausência de Kleber adia seu tenso reencontro com o defensor Welton Felipe, o voluntarioso e afoito zagueiro com nome de cantor de churrascaria.

O Atlético vai completo, com exceção do eficiente Carlos Alberto, suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Celso Roth deve escolher Marcos Rocha para a lateral-direita, além de reconduzir Feltri à lateral-esquerda, recolocando Júnior no meio-campo. O público, para felicidade geral da polícia mineira, não estará presente com a volúpia costumeira em um clássico, certamente resultado das circunstâncias vividas em meio a um confronto talvez agendado precocemente. Entretanto, a dramaticidade que o time atleticano carrega consigo, tendo como contraponto a invejável tranquilidade do rival, garante toda a expectativa.

Ainda pela décima rodada do Campeonato Brasileiro, Grêmio e Corinthians se enfrentam no Olímpico Monumental em Porto Alegre. Aguardamos ansiosamente pelo emocionante minuto de silêncio em homenagem à Andréia Albertini. Força Fenômeno!


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Beatles, tiras e rosquinhas

O finado Shea Stadium, antiga casa do New York Mets (time da Major League Baseball), foi palco da antológica turnê dos Beatles nos idos de agosto de 1965. O vídeo abaixo registrou esses instantes históricos recheados de adrenalina e lágrimas...

Enquanto os garotos do Reino Unido clamavam por socorro, alguns fãs histéricos chegaram a invadir o campo, movidos pelo desejo de percorrer todas as bases que os separavam de seus ídolos. No entanto, acabaram sendo vítimas da eficiente polícia nova-iorquina, que aplicou uma bela série de tackles e home runs, demonstrando grande versatilidade no mundo dos esportes.

Aliás, já como prenúncio da grande era de escândalos que atingiria o baseball norte-americano, foi constatado que o belo desempenho dos tiras foi fruto da intensa ingestão de poderosos esteróides anabolizantes conhecidos em conceituados laboratórios farmacêuticos como os temidos... Donuts. Acho que esses caras não vão para o hall da fama...


terça-feira, 7 de julho de 2009

Como se constrói a eternidade...



Um singelo pensamento me intrigou quando avistei os engravatados Magic Johnson e Kobe Bryant disparando com eloquência elogios póstumos a Michael Joseph Jackson em meio ao mais midiático funeral de toda a história da humanidade. Afinal, o cenário, o Staples Center, há um mês sediava as empolgantes finais da NBA...presenciava enterradas, tocos, assistências, gritos de euforia...e agora...recebia um evento surreal que oscilava entre a emoção sincera e a mais complexa bizarrice envolta em aplausos sempre seguidos por um silêncio tibetano.

A audiência brutal de todo um planeta ávido por tudo que envolva MJ garante uma nova face ao Staples Center, certamente o transformando em futuro destino de fãs em busca de um bálsamo para a dor da perda de seu ídolo. A arena carimbou seu ingresso rumo à eternidade, fazendo as pazes com a outrora traiçoeira história, que já lhe pregara duras peças em um passado não tão remoto, tendo o acaso como fiel cúmplice.

Vamos a uma humilde lista que justifica esse meu disparate: o Staples Center não viu o lendário Wilt Chamberlain em ação. Também não serviu de palco para o brilhantismo de Jerry West; tampouco para os óculos de acrilico de Kareen Abdul Jabbar e seus ganchos imbatíveis. A magia de Earvin Johnson foi outra que acabou exibindo seu vasto repertório em diferentes e felizes cenários. Como se não bastasse, o ginásio ainda surgiu em meio a um jejum de titulos do poderoso Los Angeles Lakers, a segunda mais vitoriosa franquia na história da NBA, perdendo apenas para o Boston Celtics.

No entanto, a nova arena dos Lakers surgiu imponente em 1999, como marco de uma atmosfera de grande otimismo que culminaria com uma nova era gloriosa que estava por vir, liderada por Shaquille O'Neal, Kobe Bryant, Phil Jackson e o iluminado Jack Nicholson à beira da quadra. O tricampeonato da NBA (00,01,02) e a conquista na última temporada serviram como compensação histórica para um palco que justifica com toda intensidade o moderno conceito de "multiuso", hospedando não só os Lakers, mas também os Sparks de Lisa Leslie na WNBA (bicampeão 01/02), além dos Kings na NHL (a liga de hoquei), o Los Avengers, integrante da momentaneamente suspensa AFL (a liga de futebol americano de arena), grandes shows, simpáticos eventos de luta livre e agora tributos e funerais de celebridades cosmopolitas.

A inauguração teve um concerto de Bruce Springsteen em 17 de outubro de 1999, dando o pontapé inicial à série de eventos que já justificam com sobras o investimento inicial na casa dos US$ 375 milhões. Aliás, que Juca Kfouri nunca saiba dessa, mas toda vez que é grafado o nome "Staples Center", caímos na armadilha do merchandising involuntário, já que Staples é uma rede americana de papelarias, certamente em êxtase com o retorno que a decisão de dar nome ao ginásio lhe trouxe ao longo dos anos. Apenas para constar, "staple" significa grampo, indicando um teor de criatividade inversamente proporcional à sorte dos benditos papeleiros. Segue um texto institucional colhido em exótica navegação pela rede mundial de computadores:


A Staples, Inc. foi fundada em 1986 e é a maior rede mundial de lojas para escritórios, com mais de duas mil lojas em 27 países. A empresa tem sede na cidade de Framingham, em Massachusetts. Seu catálogo e entregas abrangem, além dos EUA, Alemanha, Argentina (com o nome Off
icenet), Áustria, Brasil (com o nome OfficenetStaples), Canadá (como Staples mesmo, sendo que em Quebec o nome é Bureau En Gros, China, Dinamarca, França, Índia, Itália, Portugal e Reino Unido.


E Magic (melhor acompanhado na foto ao lado) e Kobe estavam lá...discursando diante do caixão banhado a ouro e que custou a bagatela de US$ 25 mil. Meu desejo de que ele se erguesse em triunfo e perguntasse "Who's dead?" não se realizou infelizmente. Um momento grandioso e mais melancólico que qualquer temporada do Los Angeles Clippers (o outro time da cidade na NBA e também inquilino do eclético ginásio, mas famoso pelos seus seguidos fracassos e intencionalmente ignorado anteriormente por aqui). Mariah Carey, Lionel Ritche, Brooke Shields, Stevie Wonder, o dono da gravadora, os irmãos, os filhos, a mãe de Jackson se uniram nesses instantes de dor e ostentação, oferecendo canções, palavras e gestos para a posteridade do palco que lhes abrigou.

Mesmo assim, talvez num futuro ainda bem distante, o Staples Center siga o mesmo caminho do Shea Stadium, o antigo estádio de baseball do New York Mets, demolido recentemente, apesar de eternizado por ter sido o palco de histórico show dos Beatles na turnê norte-americana de agosto de 1965. No entanto, nem explosões...nem alucinantes epidemias de Alzheimer... serão capazes de apagar memórias e momentos tão intensos...Sejam elas protagonizadas pelos Beatles....sejam elas pelo indecifrável e genial Michael Joseph Jackson.


Ps: Paul McCartney afirmou quando do último show antes da demolição do Shea Stadium: "É muito bom estar de volta. Estive aqui há muito tempo e aquela noite foi uma explosão. E hoje está sendo uma nova explosão"

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O moonwalk do basquete



Ahhhh....que maravilha a final do NBB. Arena lotada, time popular campeão, transmissão ao vivo na telinha (Sportv e trechos no Esporte Espetacular da Globo)...um verdadeiro alívio diante do recente cenário de caos da nefasta gestão Grego Bozikis. No entanto, apesar desse repentino glamour, o principal fato permanece doloroso e absurdo: o basquete masculino tupiniquim não disputa uma olímpiada desde Atlanta-96, ou seja, o Lula não era presidente, o World Trade Center era uma beleza, o Sarney...bom...o Sarney já estava no Congresso, quando Oscar e cia extremamente limitada arremessaram pela última vez sob a benção do Barão de Coubertin. Os anos se passaram...os desmandos dos bastidores se avolumaram, os fracassos amassaram sofridos aros ao redor do planeta...

O cenário dentro de quadra continua um tanto sombrio. A tal final do último domingo entre Flamengo e Brasília foi uma ode à precipitação e ao desrespeito a qualquer plano tático que possa existir, retratando fielmente o triste estágio técnico em que o basquete doméstico se encontra. Um festival de arremessos de três pontos não convertidos, finalizações precoces e desequilibradas que infinitas vezes ocorriam quando ainda restava boa parte dos 24 segundos de posse de bola. Nada de plano de jogo, nada de técnicos, nenhuma sofisticação quanto à deslocamento e busca de espaços, aliado a um descaso despudorado em relação à defesa. Enfim...a institucionalização da boa e velha "pelada", praticada na bela Arena Multiuso do Pandemônio dos cofres públicos de 2007. Se ao menos tivéssemos grandes e inegáveis talentos individuais brilhando pelas quadras do famigerado Novo Basquete Brasil...

Mas definitivamente não temos. O destaque do torneio foi Marcelinho Machado, o veterano e franzino ala do Flamengo, um dos grandes símbolos das frustantes performances da seleção nacional, com seu estilo precipitado e individualista que sempre sucumbiu com grande facilidade diante de adversários mais fortes e que sabem que basquete é muito mais do que uma competição de torpedos insanos em direção à cesta.

No entanto, ele foi campeão...Marcelinho sorriu, ergueu o troféu, apagou de sua memória por um efêmero instante todas as dificuldades de treinamento, a falta de infra-estrutura, os intermináveis salários atrasados e vibrou com cerca de 15 mil eufóricos rubro-negros numa intensa e ruidosa celebração registrada com empolgação pelas lentes da vênus platinada e seu canhão de audiência.

O basquete tupiniquim sacramentou o início de sua redenção, encerrou com pompas sua primeira temporada do NBB, mas demonstrou que, caso permaneça acéfalo dentro de quadra (mesmo com seus talentos no exterior), seguirá festejando finais de campeonato em uma bela arena com transmissão global espetacular, enquanto coleciona mais fiascos nas principais competições internacionais.

Estará aí o melancólico moonwalk do basquete nacional...imaginar que já está na lua quando na verdade está apenas dando passos para trás. Será infinita a paciência global?

terça-feira, 30 de junho de 2009


O filósofo Souza, catedrático meio-campista do Grêmio, sentenciou: "Futebol é para homem, não para menininha".

Concordo
. É a mais cristalina verdade; o Alex Mineiro joga muito mais que a Marta...(aparentemente indignada com a declaração)